Francisco era um rapaz de vida
fácil, gostava de boas trovas e cantorias. Era um amante da poesia, alguns
dizem que seu nome vem daí, seu amor pela poesia francesa que daria origem ao
seu nome. Interessante que por seu exemplo, Francisco se tornaria sinônimo de
Obediência, Pobreza, Amor.
Tinha uma grande paixão, Clara, a
quem se fazia de regada conforme o costume da época mas que também tinha um
afeto especial por Francisco.
Francisco era pomposo e tinha o
desejo que normalmente acompanha as extravagâncias, a vaidade. Queria ser
cavaleiro famoso e heroico. Seus planos não deram muito certo (ou deram) e ele
foi preso pelos inimigos e ficou assim por um ano. Quando foi libertado estava
doente. Durante o período de longas febres teve sonhos com armas e palácios,
que o levaram novamente ao campo de batalha com a certeza do jubilo e glórias.
Mas acometido de vozes voltou a Assis.
Em Assis Francisco encontra com o
seu fiel companheiro Ir. Leão, que o segue daí por diante.
Não vou me alongar no livro pois
acho que todos devem ler. É uma leitura agradável e que mostra o quanto Kazantzakis
pesquisou e tem conhecimentos místicos para conseguir fazer uma obra digna de
Francisco de Assis.
Alguns trechos em tocaram e quero
mantê-los registrados:
Pág 28. Francisco -Vi o rastro
dos passos Dele 2 ou 3 vezes na vida.
Pág 35. Francisco para D. Picà:
Senti que deste a luz pela segunda vez.
Pág 36. D. Picà relembra Pedro de
Lyon c/ as pálpebras batendo feito asas.
Pág 95. Francisco – O verdadeiro
homem é o que ultrapassa os limites do ser humano.
Pág 97. Francisco passe três dias
na caverna, rezando.
?. Francisco encontra com o
Leproso, seu maior asco e medo. Quando o vê, o beija e dá sua túnica, depois o
leproso desaparece e a certeza no coração de Francisco e Ir. Leão é que o
leproso era Cristo.
Pág 102. Francisco – Compreende?
Ir. Leão, se não salvarmos o próximo não poderemos nos salvar.
Pág 103. Francisco – Existe apensa
uma maneira. Amar.
Pág 109. Aqui embaixo tudo
obedece a mesma lei divina. Francisco percebe que ofendeu e pede desculpas,
mesmo sabendo que estava certo no contexto.
Pág 111. O coração na fala, não
interroga e quase não aprofunda nada. Aproxima-se de Deus e se entrega a Ele
sem uma palavra.
Pág 112. Senhor, se Te amo
unicamente porque desejo entrar no paraíso, me manda o anjo com o gládio p/ que
me feche a porta. Se Te amo porque o inferno me apavora, precipita-me nele. Mas
se Te amo por Ti, e exclusivamente por Ti, abre os braços e me recebe.
Pág 113. Eu o lia (evangelho)
todos os dias mas eram simples palavras, não ardiam.
Pág 117. A virtude se mantém
sozinha no alto de um penhasco deserto. Ela pensa em todos os prazeres
proibidos que nunca provou, e chora.
Pág 121. O homem perfeito é
aquele que possui o coração e o espírito em harmonia.
Pág 137. Meu Deus, dá-me a força
de renunciar um dia à esperança de Te ver! Quem sabe resida nisso e me mais
nada a perfeita pobreza. – O que pedes ultrapassa a capacidade humana. Falou
Ir. Leão.
Pág 142. Se a comida é parca o
amor é muito!
Pág 150. Sobre sua cabeça,
pintados no alto do espaldar, brilhavam duas chaves enormes, uma de ouro outra
de prata.
Pág 153. O corpo do homem é o
arco, Deus, o arqueiro, e a alma, a flecha.
Pág 159. Um dia, todos se
encontrarão no cume onde Deus está sentado de braços abertos.
Pág 160. Cristo tinha razão ao
afirmar que o Reino dos Céus está em nós. A fome não existe, nem a sede, nem a
dor, só o coração humano, e é ele que, a partir do nada, gera a fome, a água e
a alegria. Ele é que é o paraíso.
Pág 163. Não tenho grãos para
lhes dar, mas vou alimentá-los com a palavra de Deus, a fim de permitir que
também possam entrar no paraíso. (Francisco falando as aves)
Pág 173. Era uma vez um
eremita que durante a vida inteira se esforçara por atingir a perfeição. Depois
de repartir todos os seus bens entre os pobres, retirou-se para o deserto e
consagrou-se à oração.
Chegou
a hora da morte. Foi para o céu e bateu à porta do paraíso. “Quem é?”,
perguntou uma voz lá dentro. “Eu!”, respondeu o ermitão. “Aqui não há lugar
para dois”, replicou a voz, “Vai embora!”. O eremita então desceu novamente à
terra e reiniciou a luta: pobreza, jejum, preces, lágrimas... Quando morreu
pela segunda vez, ei-lo de volt à porta do paraíso. “Quem é?”, indagou a mesma
voz. “Eu!”, “Aqui não há lugar para dois, dá o fora!”, repetiu a voz. Desesperado,
o eremita regressou à terra outra vez, recomeçando a luta com mais fervor do
que nunca, para obter, enfim, a salvação de sua alma. Aos cem anos morreu pela
terceira vez. Apresentou-se ao paraíso. “Quem é?”, perguntou a voz. “Tu,
Senhor, Tu”, respondeu. Então a porta se abriu instantaneamente e ele entrou.
Pág 175. Francisco acalma o mar.
Pág 184. A terra inteira é um
convento, podes viver castamente sem abandonar o mundo.
Pág 187. E por que essa mania
imprudente de estar sempre fazendo perguntas? Pretenderás, por acaso, que Deus
te dê explicações? Cala a boca, insolente!
Pág 198. Irmã Clara, sê bem-vinda
entre nós! (Francisco recebe clara como Irmão, levando a ordem as mulheres a
pesar dela ir para o convento.)
Pág 212. Francisco sofre e diz
que Jesus era Deus enquanto ele é barro.
Pág 214. Leão: Como
conseguiremos ir a San Damiano? Teus joelhos oscilam.
Francisco: Não repares nos meus
joelhos. Olha antes minha alma, que não vacila. Para frente! A alma humana é um
centelha divina. É onipotente.
Pág 217. Era uma vez um verme que
passara a vida a rastejar pela terra. Já velhinho, chegou à porta do paraíso.
Bateu. “Os vermes não entram facilmente aqui!”, falou uma voz do interior. “Acho
que estás muito apressado!” “Que fazer, Senhor? Ordena”, respondeu o verme,
enroscando-se como uma bola, de tanto medo que sentia. “Sofre mais, luta,
transforma-te em libélula!” E o verme voltou à terra para lutar e sofrer.
Pág 217. Ouçam o que digo: Somos
todos um único ser, posso jurá-lo. Quando uma mulher pinta os lábios nos
confins do mundo, irmãs, seus próprios lábios se cobrem de uma pintura
impudente. Que é o paraíso, senão a perfeita felicidade? Mas como pode alguém
atingi-la, quando, debruçando-se à janela do paraíso vê irmãos e irmãs a
sofrerem no inferno? Como pode existir o
paraíso enquanto existir o inferno? É por isso que eu digo, gravem bem no
espírito, minhas irmãs: a salvação para todos ou a condenação para todos.
Quando um ser humano perece nos confins da terra, todas as criaturas perecem
com ele. Se ele se salva, todos se salvam da mesma maneira.
Pág 218. Pressinto a proximidade
de vocês, minhas irmãs, e o meu coração fica radiante; ele gostaria que todos,
os bons e maus, transpusessem o seu limiar; desejaria também que a dor fosse
expulsa deste mundo e do outro. Um pensamento ímpio me vem aos lábios.
Permiti-me, Senhor, revela-lo às irmãs. Estão cheias de amor e compaixão, hão
de compreender: neste momento, perdoa-me meu Deus! Tenho pena do próprio satanás.
Não existe criatura mais desgraçada, pois, tendo estado junto de Deus,
afastou-se Dele. E inconsolável porque Deus não o privou da memória e recorda
sempre a doçura do paraíso. Precisamos rezar por satanás, para que o Altíssimo
lhe perdoe e lhe permita retomar o seu lugar entre os arcanjos. O diabo é uma
fera, disforme e sanguinária, mas um beijo nos lábios pode lhe restituir a
forma e a alma de arcanjo. È nisso que consiste o perfeito Amor – e o Amor é
prerrogativa da mulher – beije satanás, e o demônio reencontrará o primitivo
semblante resplandecente!
Pág 226. Rico é o que não deseja
riqueza! Pobre é o rico que deseja adquirir mais riqueza ainda!
Pág 228. Não há nenhuma estrada
ampla que conduza a Deus; só as trilhas estreitas levam ao paraíso.
Pág 234. Se puderem preguem com
palavras. Mas sobretudo, preguem com o
exemplo de suas vidas e obras. O
que é que supera as palavras? A ação. E acima da ação? O silêncio. Preguem
primeiro por palavras, depois por atos, e entrem finalmente no silêncio sagrado
que envolve o Senhor.
Pág 235. Aquele que está unido a
Deus obtém três grandes privilégios: a onipotência sem força, a embriaguez sem
vinho e a vida sem morte.
Pág 235. Acreditem meus irmãos o
paraíso não é outra coisa senão a própria terra tornada virtuosa.
Pág 241. A vida de monge é de
fato terrível, e nem todos podem suportá-la. Aliás, é preferível que seja
assim, pois, se todo mundo quisesse ser monge o que aconteceria a terra?
Pág 241. Ouve o que Deus me
aconselhou.
Paralelamente
a nossa ordem, talvez muito severa, deveríamos instituir outra, mais suave,
mais suportável, onde poderiam ingressar os outros bons cristãos que vivem no
mundo. No seio dessa ordem, os irmãos teriam o direito de se casar, de fazer
prosperar os seus bens, de comer e beber com moderação, sem andar descalços nem
usar hábitos. Porém seriam obrigados a viver virtuosamente, a reconciliar-se
com os seus inimigos, a praticar a caridade e levantar os olhos ao céu a cada
instante.
Pág 268. Ir. Leão: Francisco,
sempre de braços abertos estava suspenso nos ares.
Pág 268. Sinto dores, doem-me as
mãos e os pés como se estivessem sendo furados por pregos.
Pág 269. Teu pecado é grave,
disse Francisco a Ir. Leão, durante três dias e três noites eu não meterei nem
pão nem água em minha boca.
- Mas não foste tu que
pecaste.
- Dá no mesmo, irmão Leão por
acaso não somos todos um único e mesmo ser?
- Nunca mais irmão Francisco,
nunca mais.
- Já não te disse que “nunca” e “sempre”
são palavras que só Deus tem o direito de pronunciar.
Pág 295. Na gruta, quando se
comemoravam o natal, sendo representado o nascimento de Cristo. Quando o sacerdote
atingiu esta passagem: “Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de
boa vontade”. Uma claridade azulada iluminou a manjedoura e todos puderam ver
Francisco inclinar-se, depois levantar-se segurando um recém-nascido nos
braços.
Depois
Francisco levantou-O bem alto em frente as tochas e exclamou. – Meus irmãos eis
o salvado do mundo!
Pág 298. Irmão Antônio pregava
aos peixes e operava milagres. Os peixes se juntavam p/ ouvi-lo pregar.
Francisco em relação a Antônio – Morro, mas outro acaba de nascer.
Pág 319.
Pág 328. O que é o Amor, meus
irmãos?
É
mais que a compaixão e bondade, porque na compaixão há duas facções: O que
sofre e o que se compadece. Na bondade é o mesmo: O que dá e o que recebe. No
Amor, porém, há apena uma: As duas partes se fundem numa única e nunca se
separam. O eu e o tu desaparecem, porque Amar significa desaparecer.
Pág 329. Meu pobre burrinho (como
Francisco chamava o corpo físico), meu irmão, meu corpo quebrado, torturei-te,
perdoa-me.